Polícia

O terror silencioso da milícia em Itaboraí

Operação começou logo no início da manhã. Foto: Alex Oliveira.

Quase meio milhão de reais em extorsões, esse foi o valor informado pela polícia de acordo com as investigações sobre a milícia que atuava em Itaboraí, controlada pelo miliciano preso, 'Orlando Curicica'. As informações são resultados da operação realizada na manhã desta quinta-feira para prender integrantes da milícia.

Segundo a polícia, até o início da tarde, pelo menos 50 pessoas acusadas de integrar a organização criminosa foram presas. O ex-PM, Alexandre Louback Geminiani, conhecido como 'Playboy', que segundo a polícia é acusado de ser um dos chefes da quadrilha, pulou do 4º andar onde morava para fugir.

De acordo com Gabriel Poiava, delegado da Divisão de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) e responsável pelas investigações, desde de janeiro de 2018 a milícia atua em Itaboraí a partir das ordens de Orlando Curicica, que mesmo preso atuava com 'Renatinho Problema', na expansão da organização criminosa no município.

"De lá para cá, nós começamos a notar um aumento considerável de assassinatos na região.  A partir daí, iniciamos uma investigação em bloco para identificar os integrantes da organização criminosa", afirmou o delegado.

Para Rômulo Santos Silva, promotor do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, a milícia de Itaboraí funcionava como uma espécie de "franquia" do crime.

"Identificamos uma migração de milicianos de Curicica para Itaboraí. É uma organização criminosa com uma característica bem violenta. Conseguimos apurar que eles praticavam diversos homicídios como uma forma 'limpar' o local dos seus criminosos rivais", detalhou o promotor.

Mais de 50 assassinatos

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Desde 2018 a polícia investiga a atuação de milícia na região. Foto: Alex Oliveira / Arquivo

Segundo o delegado Gabriel Poiava, a milícia foi responsável por praticar pelo menos 50 homicídios em Itaboraí, podendo esse número ser ainda maior com o avanço das investigações.

"Muitos familiares de desaparecidos não procuraram a polícia para fazer o registro de ocorrência por medo de retaliação. Através de escutas telefônicas apuramos que parentes das vítimas eram coagidos pela milícia para não procurarem a polícia. Então, ao longo da investigação pretendemos localizar esses corpos desaparecidos", garantiu.

Ameaça e chantagem

A Polícia Civil teve acesso a gravações obtidas com autorização das Justiça. Em uma das escutas, a diretora de uma escola em Itaboraí liga para um miliciano para saber o motivo da visita do criminoso.

Vítima: "Boa, noite é o Tiago? Tiago, eu sou diretora da escola. Você esteve na escola?

Miliciano: É o Tiago sim . Eu estive para fazer o cadastro da senhora. 

Vítima: Que cadastro Tiago?

Miliciano: A gente faz parte da equipe de segurança daqui do bairro. Estamos combatendo o tráfico, os assaltos e queria saber se você pode colaborar com a gente?

Vítima: É quanto, Tiago?

Miliciano: A gente tem uma tabela. Na tabela tá R$ 300 por semana.

Vítima: Por semana, Tiago?

Miliciano: É ué. O que a senhora pode fazer para gente?

Vítima: Você sabe que aqui é uma escola né? A gente trabalha, corre atrás tem pai que não paga. Eu sei que é o trabalho de vocês, mas 300 por semana é muito caro.

Miliciano: A gente pode tirar 100 já ajuda a senhora?

Vítima: Já ajuda e muito.

Miliciano: Então fica 200 por semana! A gente passa toda terça-feira.

Vítima: Eu sei que vocês estão fazendo segurança, mas nada de negócio de arma.

Miliciano: Isso a senhora pode ficar despreocupada. Estamos aqui para trazer o bem e a paz.

Vítima: Quando você chegou aqui, a menina chegou a tremer. Expliquei a ela que era o rapaz da segurança aqui na rua. Como é feito esse pagamento? Quem vem pegar?

Miliciano: Vai eu ou o Pedro que trabalha comigo. Ele vai chegar se identificar, dizendo que trabalha na segurança.
Vítima: Não dá para fazer pelo menos por 150

Miliciano: A gente tem uma tabela que é passada pelo nosso patrão. Eu já estou tirando 100 sem ele permitir. Todos os comerciantes pagam.A gente está indo em todas as escolas. Já estamos prestando essa segurança há uns cinco meses. E só fomos fazer o cadastro agora. Pode chegar em um mercado ou uma padaria e perguntar.

Vítima: Como vocês fazem essa segurança?

Miliciano: A escola da senhora fica no bairro Nancilândia né? Atrás do colégio tinha favela. quantos pais não foram assaltados ou quantos alunos a senhora não perdeu por falta de segurança. A boca de fumo era atrás da escola. Já pegamos vagabundo vendendo drogas para os alunos. Temos Vários funcionários rodando, viatura que passa 24 horas. 

O miliciano continua argumentando com a diretora da escola e diz ainda onde o "serviço" chegou primeiro. Finalmente a negociação é fechada por R$ 180,00 por semana.

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